sexta-feira, 29 de maio de 2015

Por assim dizer, eu!

Como de costume, procurou poesias nos rascunhos de papéis amassados, no canto do quarto; como um grito, pedindo por alívio: um  uivo de socorro! Desajustou os fios, no exercício de se reconhecer como imperfeito; difícil para ele: não o julgue! Catou algumas pontas amassadas e refletiu. Refletiu. Refletiu. Não chegou a lugar algum. Mas pôs-se, nesse momento, em uma situação de desconforto. Queria sentir o desconforto, penetrando suas veias, como alucinógeno, para escapar da dor: viver é aterrorizante. Tenho medo, digo, ele tem medo.

domingo, 23 de março de 2014

God bless you, please, Mrs. Robinson, heaven holds a place for those who pray Hey hey hey

We'd like to know
A little bit about you
For our files.
We'd like to help you learn
To help yourself.
Look around you. All you see
Are sympathetic eyes.
Stroll around the grounds
Until you feel at home

        Cansou-se dos tempos vazios, das palavras soltas, das pessoas mecânicas, do café morno na tarde abafada da sua cidade favorita. Decidiu por escrever, rabiscar qualquer coisa que amenizasse a comichão dentro de si. Não sabia escrever versos bonitos, nunca tivera veia poética, mas fazia de sua bagunça mental um punhado de escritos meio desconexos com a sua realidade: não o entendiam, não poderiam entende-lo. Olhou mais uma vez pro retrato guardado na carteira velha, deu um sorriso, jogou no papel algumas palavras atrozes, mas também com 'açucar e afeto'. A tarde era quente e silenciosa: nunca gostou do silêncio, nem sempre o silêncio e representativo de paz - pensava!
        Decidiu por de lado o papel, foi buscar na memória os confeitos da sua juventude. Nunca fora como os outros garotos da sua idade, tinha nas lembranças as memórias mais improváveis, os domingos de confeitos e sobremesas da tradição portuguesa e que sempre davam um embrulho no estômago no final do dia, das sessões de filmes desconhecidos, premiados em algum festival pós-cult, da poeira, na mesa do micro-escritório, que o irritava diariamente, no cantinho dos livros, seu maior orgulho, hoje empilhados em caixas de papelão, nunca tivera coragem de mexer nas caixas. Pôs de lado o saudosismo quando percebeu a gata miando e roçando o rabo insistentemente nas suas pernas ao mesmo tempo em que sentiu o cheiro do feijão prestes a queimar. Levantou-se de sobressalto e deixou os rabiscos e a memória de lado, por um tempo, ligou a radio, tocava "Mrs Robinson", sentiu seu corpo ferver por dentro enquanto uma lágrima escorria delicadamente, pegou a vassoura, catou a bagunça da irmã mais nova, pôs a água do café no fogo, eram quase cinco da tarde e como em um ato catartico cantou, a cada verso mais alto, e por mais alto que cantasse, ninguém o ouvia, " Hide it in a hiding place, where no one ever goes", e continuou cantando, dançando, rabiscando, sabia que ali nínguém o ouvia, via e muito menos o lia, mas insistia a cantar e cantar: God bless you, please, Mrs. Robinson, heaven holds a place for those who pray, hey hey hey, hey hey hey.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Mon Ami Imaginaire

Querido amigo,

Je suis un mensonge qui dit toujours la vérité

Venho hoje para dizer que sinto sua falta. Sim, sei que estou em falta com você e que a muito tempo não te escrevo para dar notícias minha. Mas hoje não queria falar no que o presente me transformou, mas nas lembranças de um passado que ainda me sustenta.
 Nos bolos de milho com queijo -e suco de acerola de dois dias na geladeira- na casa da vó Zozó, nos fins de tarde, nas conversas repedidas que varavam madrugadas com bisa Lurdes, nos meus monólogos no silêncio do sereno que sempre terminavam nos lanches inventados na cozinha. No café das 18 horas, na Ave Maria da rádio, nas brigas pela desordem do quarto, no choro simples que ninguém ouvia, nas inconstâncias dos meus anseios e nos sonhos dos meus desejos que me matavam a sede depois de um dia seco. Nos cochichos maliciosos dos colegas de classe que sibilavam viadinho no meu ouvido, nos meus gritos surdos na tarde vazia, nas conversas com tia Lia que sempre me dizia de um futuro lindo e brilhante, nas poesias do fundo do caderno, nos beijos falsos e forçados em uma menina só para convencer os amigos que não sabiam, nos dias desperdiçados na maresia de Bom Jesus dos Pobres, no cachorro-quente de fim de dia e na novela das oito que eu não perdia.
Sei que os tempos são outros. E tudo é tão depressa... Me pego olhando para o tempo, esperando o tempo olhar para mim, mas isso é vício de tolo, risos. Em breve te escreverei novamente e espero que logo mais possamos nos ver novamente.

Com carinho,
Seu amigo Eu-lírico não-identificado

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013


A boca que discursa não mais o depoimento verbal, mas o puramente gestual na busca insignificante da explicação. Resposta. Já não fala mais pelos aflitos e sim pelo seu aflito. A palavra que gera eufonia deturpando o ouvido e que te mostra um show horroroso de personagens reais, vivos, porém fictícios.
Mero engano! O julgar da embalagem plástica e maleável, contudo bem apresentável.

Do que coube julgar-se e julgar-lhe por egoísmo indevido: o fez.
Apropriar-se do impróprio, também. Desapropriar-se!

Elevar-se ao mais alto refúgio, fuga imperfeita, fingida.
De que valem as lágrimas que já não sensibilizam: Nada!
A não ser para quem chora. Dor, alegria, ALÍVIO!

Um “Lamento, que é só mais um lamento entre tantos já feitos”.
Em uma rítmica sintática acelerada, dicotomiza o ciclo de duplicidade em uma simples, porém triste valsa de um só.  Não acredito que vos cabe mais os pares. Nem mais a apropriação de uma rima romântica.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Diálogo da pré-meia noite (Algoz, atroz, confeito)

Ainda que cobrisse o rosto com a falsa sensação de que a paz era iminente no dia seguinte, sentia-me num completo breu. E de fato me encontrava na penumbra da sala, naquela falsa calma noite. Sincero aos meus anseios como sempre fui, coloquei-me em severo castigo mental, com um único intuito de afagar meu corpo que tão só se castigava na sala escura. Já não falo da alma metaforicamente poetizada, e sim das facadas internas que sentia da angustia, pelo simples fato de eu ser eu.
Bem, ser eu agora já não era tão simples. Culpava-me, e agora, a dor sincera conseguia atravessar o peito,  de forma lenta.  Já não utilizava mais personagens, nem terceira pessoa. Transferia minha dor para primeira e única pessoa.
E já não me importava soluçar dentro do almofadão, o sínico silêncio já havia se apoderado daquela noite.
E junto com a água salgada que insistia em escorrer, como que na tentativa de expurgar alguma coisa sem tempo para reflexão, vinha a imagem do meu sincero arrependimento.
Arrependimento por ser eu, tão egoísta a ponto de nunca conseguir controlar minhas inquietações.
Mas o arrependimento maior é por ser eu, me causar tanto mau. E por ser eu, me causo tanta dor.

Já não sou eu, nem tão importante assim ... Nem para você, agora, tampouco para mim. E se me espreito de lado e vejo que  repousa tranquilo, não preciso de muito tempo para perceber que você e os tantos outros que adoecem a alma por conta desta algoz presença, precisam respirar.

E que um dia .... o meu atroz jeito torne-se em um amontanhado de confeitos.


domingo, 16 de setembro de 2012

Dentro do meu nada.

Dentro do meu nada há consistência e segurança
Há palavras soltas, propositalmente soltas ...
Há um vazio preenchido com sopros de ilusão
Não há pessoas, não é permitido a entrada delas.
Não há persuasão, não há vozes triste, nem tão pouco felizes, apenas vozes
Também não há traduções, só um vagão que de longe se vê
putas tristes e desonestas .....

sábado, 15 de setembro de 2012

Confissões para Zeus, I


E ainda que eu relutasse em aceitar suas transgressões
filosóficas, vigorava sua lógica diante dos meus anseios.
E os meus olhos destreinados
no breu do desconhecido afortunado
....

Meu Zeus ateu!
Atentou, impulsionou, conquistou
Dito Deus, O meu.
Que a mim prometeu eternidade
na minha pouca idade.
E que minha imagem
Essa doce mensagem
Contorne em linha fina
Meu conto de deus
Para o meu Zeus!