domingo, 23 de março de 2014

God bless you, please, Mrs. Robinson, heaven holds a place for those who pray Hey hey hey

We'd like to know
A little bit about you
For our files.
We'd like to help you learn
To help yourself.
Look around you. All you see
Are sympathetic eyes.
Stroll around the grounds
Until you feel at home

        Cansou-se dos tempos vazios, das palavras soltas, das pessoas mecânicas, do café morno na tarde abafada da sua cidade favorita. Decidiu por escrever, rabiscar qualquer coisa que amenizasse a comichão dentro de si. Não sabia escrever versos bonitos, nunca tivera veia poética, mas fazia de sua bagunça mental um punhado de escritos meio desconexos com a sua realidade: não o entendiam, não poderiam entende-lo. Olhou mais uma vez pro retrato guardado na carteira velha, deu um sorriso, jogou no papel algumas palavras atrozes, mas também com 'açucar e afeto'. A tarde era quente e silenciosa: nunca gostou do silêncio, nem sempre o silêncio e representativo de paz - pensava!
        Decidiu por de lado o papel, foi buscar na memória os confeitos da sua juventude. Nunca fora como os outros garotos da sua idade, tinha nas lembranças as memórias mais improváveis, os domingos de confeitos e sobremesas da tradição portuguesa e que sempre davam um embrulho no estômago no final do dia, das sessões de filmes desconhecidos, premiados em algum festival pós-cult, da poeira, na mesa do micro-escritório, que o irritava diariamente, no cantinho dos livros, seu maior orgulho, hoje empilhados em caixas de papelão, nunca tivera coragem de mexer nas caixas. Pôs de lado o saudosismo quando percebeu a gata miando e roçando o rabo insistentemente nas suas pernas ao mesmo tempo em que sentiu o cheiro do feijão prestes a queimar. Levantou-se de sobressalto e deixou os rabiscos e a memória de lado, por um tempo, ligou a radio, tocava "Mrs Robinson", sentiu seu corpo ferver por dentro enquanto uma lágrima escorria delicadamente, pegou a vassoura, catou a bagunça da irmã mais nova, pôs a água do café no fogo, eram quase cinco da tarde e como em um ato catartico cantou, a cada verso mais alto, e por mais alto que cantasse, ninguém o ouvia, " Hide it in a hiding place, where no one ever goes", e continuou cantando, dançando, rabiscando, sabia que ali nínguém o ouvia, via e muito menos o lia, mas insistia a cantar e cantar: God bless you, please, Mrs. Robinson, heaven holds a place for those who pray, hey hey hey, hey hey hey.

Nenhum comentário:

Postar um comentário