quarta-feira, 3 de julho de 2013

Mon Ami Imaginaire

Querido amigo,

Je suis un mensonge qui dit toujours la vérité

Venho hoje para dizer que sinto sua falta. Sim, sei que estou em falta com você e que a muito tempo não te escrevo para dar notícias minha. Mas hoje não queria falar no que o presente me transformou, mas nas lembranças de um passado que ainda me sustenta.
 Nos bolos de milho com queijo -e suco de acerola de dois dias na geladeira- na casa da vó Zozó, nos fins de tarde, nas conversas repedidas que varavam madrugadas com bisa Lurdes, nos meus monólogos no silêncio do sereno que sempre terminavam nos lanches inventados na cozinha. No café das 18 horas, na Ave Maria da rádio, nas brigas pela desordem do quarto, no choro simples que ninguém ouvia, nas inconstâncias dos meus anseios e nos sonhos dos meus desejos que me matavam a sede depois de um dia seco. Nos cochichos maliciosos dos colegas de classe que sibilavam viadinho no meu ouvido, nos meus gritos surdos na tarde vazia, nas conversas com tia Lia que sempre me dizia de um futuro lindo e brilhante, nas poesias do fundo do caderno, nos beijos falsos e forçados em uma menina só para convencer os amigos que não sabiam, nos dias desperdiçados na maresia de Bom Jesus dos Pobres, no cachorro-quente de fim de dia e na novela das oito que eu não perdia.
Sei que os tempos são outros. E tudo é tão depressa... Me pego olhando para o tempo, esperando o tempo olhar para mim, mas isso é vício de tolo, risos. Em breve te escreverei novamente e espero que logo mais possamos nos ver novamente.

Com carinho,
Seu amigo Eu-lírico não-identificado

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